HISTÓRIA E PATRIMÓNIO
A igreja matriz de Santa Maria de Loures
Classificada em 1910 como Monumento Nacional, a igreja matriz de Santa Maria de Loures é hoje uma das mais belas e significativas igrejas da região de Lisboa. Carinhosamente apelidada pelo povo de “Catedral dos Saloios”, destaca-se de tantos outros notáveis edifícios, pela singularidade da sua arquitetura, pintura e talha dourada, num importante conjunto artístico onde a evolução dos diversos movimentos artísticos estão patentes pela mão de alguns dos melhores pintores e escolas ao tempo, entre os séculos XVI e XVIII. Simão Rodrigues, André Reinoso, Bento Coelho da Silveira, Lourenço de Salzedo, Bento da Fonseca Azevedo e diversos outros nomes trouxeram a Loures o que de melhor se fazia então na capital portuguesa, revelando a importância económica e sociológica decorrente de uma longa consciência estratégica de uma das mais fortes regiões do país, onde as grandes famílias relacionadas com a Coroa se foram reunindo logo desde o início da nacionalidade até ao século XIX. Para entender a grandeza e a imponência desta igreja matriz basta compreender a mundividência que em seu redor preenchia as paisagens de quintas, igrejas, capelas, palácios, grandes propriedades agrícolas e unidades industriais de grande notoriedade, por vezes de perfil internacional.
Num conjunto que podemos assumir como de “obra de arte total”, a igreja matriz de Santa Maria de Loures está envolta em alguns segredos, sendo o maior a razão da sua localização. Isto permitiu que diversas teorias se tenham vindo a desenvolver ao longo do tempo, criando no imaginário local e em alguns investigadores a dúbia certeza de remeter a uma eventual origem templária. Desta tese não temos hoje qualquer indício de prova; pelo contrário, temos boas referências a partir do século XVI, que se concretizam na arte à vista, denunciando uma catequese pela forma, pela cor e pela figuração, nas quais se fixam principalmente três temas: Maria, a Eucaristia e a Paixão de Jesus.
De três naves e de arquitetura em cruz latina, a igreja matriz de Loures apresenta uma proporção áurea fora do comum numa área de implementação como aquela onde se encontra, onde o contexto urbanístico está descentralizado da comunidade local, evidenciando um objetivo invulgar e ainda desconhecido para a sua edificação naquele mesmo lugar. Por outro lado, também releva o nível de investimento mecenático em redor do monumento, e a força comunitária expressa pela diversidade de irmandades que, ao longo dos séculos foi desenvolvendo diferentes campanhas artísticas e que hoje marcam estéticamente este espaço.
O orago da igreja matriz e a padroeira da paróquia de Loures
Desde o princípio do cristianismo que é comum as comunidades cristãs escolherem um santo, um arcanjo, uma das Pessoas da Santíssima Trindade ou a Mãe de Jesus, Maria, como protetores das localidades, dos espaços de culto ou das próprias comunidades. Esta tradição permanece ainda nos dias de hoje, afirmando a importância que o modelo de santidade tem para os cristãos, não só como estímulo de aperfeiçoamento pessoal e comunitário, mas também como consciência de que, nestes exemplos de entrega, Deus protege e está sempre presente, porque ama.
De acordo com a prática comum por toda a Europa ocidental medieval, também a comunidade local cristã de Loures assumiu como orago da igreja matriz a Mãe de Jesus sob a invocação toponímica de Santa Maria de Loures. No entanto, não tendo a representação qualquer símbolo associado, aparece somente sob a tradicional invocação de Nossa Senhora da Assunção, tão presente nas catedrais portuguesas, igrejas paroquiais e nos mosteiros cistercienses. Esta opção está patente no interior da igreja, quer pela representação iconográfica no medalhão central do teto da nave central, onde consta inscrita a data de 1742, quer pela figuração numa belíssima imagem de madeira esculpida do mesmo período.
Já na primeira década do século XXI, a paróquia assumiu a distinção entre as representações imagéticas de ambas as invocações marianas, para melhor entendimento sobre os seus significados. Por um lado, Santa Maria de Loures está hoje representada através de uma imagem de roca, típica no século XIX, possuindo dois conjuntos de vestido e manto: um do século XVIII, com brocado de seda, tendo a toda a volta um galão de prata e fio metálico; e outro, do século XXI, de damasco e fio metálico dourado. Atualmente esta imagem de Santa Maria de Loures, simples na sua composição, encontra-se à veneração na zona do nártex da igreja, isto é, à entrada. Por sua vez, Nossa Senhora da Assunção, orago da igreja matriz, surge, como referido antes, em imagem de madeira talhada, do século XVIII, estofada a ouro, e elegantemente composta. Esta imagem mostra Maria, a Mãe de Deus, sustentada sobre Anjos, como que revelando o mistério da sua assunção, isto é, elevada ao Céu com especial privilégio entre toda a humanidade por ter aceite ser a Mãe do Senhor. Tem ainda como ornamento simbólico deste mistério um resplendor de prata, de simples feitura, composto de estrelas, recordando a referência à “mulher com uma coroa de doze estrelas” do Livro do Apocalipse (12, 1-6), aludindo a Maria com aquela que une em si o tempo e a história da Salvação por meio do seu filho, Jesus Cristo.
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